Uma das cenas mais incríveis que vi durante uma viagem foi em 2011 quando estive em Paris pela segunda vez. Meu regresso foi muito especial por alguns motivos. O primeiro deles foi ter encontrado uma amiga com quem eu havia trabalhado em Brasília e por quem sempre tive um grande carinho. Quando ela tinha 18 anos, morou na Cidade Luz por mais de um ano e resolveu voltar para “fazer as pazes” com o lugar. Isso porque algumas experiências naquele período deixaram marcas e sentimentos de inquietude.
Laís foi a Paris para fazer um curso de culinária e se hospedou num apartamento privado, coisa bem comum na Europa. Minha viagem especial começou bem aí. Encontrar uma amiga em outro país, pelo simples fato de estarmos no mesmo continente e por me hospedar na casa de estranhos. Na verdade, os detalhes ao longo dos dias que passamos juntas tornaram este encontro especial.
Ela me apresentou uma Paris completamente fora do itinerário dos pontos turísticos. Para mim foi incrível, já que o meu objetivo era estar com ela. Sabe aquelas coisas de que estar nos lugares é bom, mas estar com os amigos nos bons lugares é divino? Foi exatamente assim. Fizemos compras de supermercado, almoçamos e jantamos em lugares simples e sofisticados, e foi ela quem me apresentou o meu maior vicio parisiense: o tal Macaron no Café especializado mais top da cidade.
A melhor máquina fotográfica
Naquela época eu já tirava muitas fotos, mas nada tão insano como agora. Confesso que uma foto gostaria de ter tirado, mas como não foi possível, o jeito foi gravar a cena na memória mesmo.
Andando por uma rua bem pequena vimos um mendigo com seu cão companheiro, lendo um livro super grosso. O espanto ficou estampado em nossas caras e nosso preconceito também. Como assim um mendigo lendo? Ficamos extremamente surpresas, pois acho que nenhuma das duas poderia imaginar ver isso um dia na vida. Eu até cogitei a ideia de sacar uma foto, mas desisti, achei que minha atitude poderia invadir e tirar a concentração de um leitor absorto.
O tamanho da mala
No dia seguinte chegou a prima de Laís para nos trazer mais diversão. Soraya chegou com a menor bagagem que já vi na vida. Uma mochila, dessas bem pequenas, que a gente carrega como bolsa e uma máquina fotográfica profissional. Naquele momento aprendi que a gente não precisa carregar muitas coisas, o que faz mais leve qualquer viagem ou rotina.. Ali descobri que o que deveríamos acumular mesmo são apenas os bons momentos. Foram dois dias de muitas risadas e aprendizados, já que Soraya estava na luta contra o câncer há dois anos e estava vencendo cada batalha. Nossas conversas sobre a vida se eternizaram e toda vez que vou viajar separo a máquina fotográfica e ao fazer a mala, lembro-me dela chegando em Paris, e tento levar o mínimo de coisas possível … mas quem disse que eu consigo? Continuo tentando…
Viajando todos os dias
Atualmente, mesmo na cidade em que moro, procuro manter os olhos abertos como de quem viaja. E mais uma vez tive uma boa surpresa. Esta semana, passados exatos 5 anos, entrei no ônibus em Viena e me deparei com o motorista lendo um livro durante sua pausa de 4 minutos no ponto final da estação. Fiquei surpresa e pedi permissão para tirar a foto. Em seguida, a poucos minutos dali, na entrada do metrô, me deparei com um senhor, que há anos vende jornais, lendo as notícias do dia. Não tive dúvidas e registrei o momento.
Curiosamente, pesquisando na internet, vi que 23 de março é Dia Mundial do Livro e do Direito de Autor. Então, viva a leitura! E parabéns a todos os leitores e consumidores de informação. E aqui vai meu muito obrigado a você por me acompanhar no blog e/ou em outras redes sociais. Talvez você não imagine como é bom poder compartilhar minhas experiências e receber seus comentários.
Obrigada
Um beijo enorme
Kely
PS: enquanto escrevia sobre as memórias dessa viagem recebi a notícia de que Soraya mudou a rota da viagem e foi passear no céu; faleceu após 7 anos lutando contra diversos tipos de câncer. Partiu deixando saudade e várias lições. Estranhamente entendi o recado de que realmente somos apenas turistas nessa terra e cada momento é único com ou sem fotografia para nos relembrar. E o no final o que que fica é só saudade
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Texto e Fotos: Kely Martins Bauer
Revisão: Maria Lucia Castelo Branco

10 Comentários
anabarandas
30 de março de 2016 at 8:27 amPuxa, que triste. Espero que Soraya esteja em paz!
luiz roberto
30 de março de 2016 at 11:01 pmOs franceses têm uma expressão muito legal: profiter les bonnes choses de la vie… ou seja… desfrutar as boas coisas da vida. Desfrutar a companhia, as risadas são algumas dessas coisas impagáveis. Outra expressão francesa é o “flaneuer” que significa caminhar pela cidade sem destino certo. Dar chance ao acaso. Deixar as coisas acontecerem sem muito planejamento. Claro que quando visitamos uma cidade como Paris isso é maravilhoso…está de olhos abertos… ver as expressões… a bizarrice da cultura é tudo de bom.
Bjs papai
Kely Martins Bauer
11 de abril de 2016 at 1:33 pmOi pai, que fofo seu comentário.
E que a gente sempre veja cada dia como uma oportunidade né?
Beijocas mil e nos encontramos em Paris
Kely
Kely Martins Bauer
11 de abril de 2016 at 1:32 pmOlá Ana,
obrigada por comentar aqui no blog. Foi triste receber a noticia, mas ela está melhor que todos nós. Lutou até o final e nos deixou muitas lições.
beijocas
Kely
Maria Lucia Castelo Branco
4 de abril de 2016 at 2:13 pmKely, ficou maravilhoso o seu texto. Estou orgulhosa de poder compartilhar com você. Beijos carinhosos.
Kely Martins Bauer
11 de abril de 2016 at 1:35 pmMamae,
Obrigada pelo apoio. Sua ajuda tem sido fundamental nessa jornada.
Beijos mil
Kely
Iana Martins
6 de abril de 2016 at 2:57 pmQue maravilha! Fico feliz de ver você é conhecer um pouco disso tudo. Belo trabalho! Beijos mil.
Kely Martins Bauer
11 de abril de 2016 at 1:36 pmOi maninha,
que bom ver seu comentário por aqui.
Um beijo enorme
Kely
Denise Lazarus Jardim
11 de abril de 2016 at 10:45 amAdorei o texto!! 🙂
Kely Martins Bauer
11 de abril de 2016 at 1:38 pmOi De,
que maravilha receber seu comentário aqui no Blog. Muito obrigada!
Beijos
Kely